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As novas caras da moda Brasileira

By 2:05 AM

As novas caras da moda Brasileira
Jovens e cheios de talento, eles transformam as dificuldades em motivação e conquistam espaço no concorrido mundo fashion
Por Sara Lee Fotos: Ligiane Braga





Nos últimos anos, apostar na moda brasileira tem sido um ótimo negócio com um excelente reconhecimento internacional, porém, devido à crise financeira que se instalou, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, as exportações de roupas e acessórios caíram consideravelmente. O lado positivo é que o mercado interno se fortaleceu e se tornou mais competitivo. A diversidade cultural existente no Brasil é a grande responsável por esse aquecimento, gerando milhares de empregos diretos e indiretos, e movimentando a economia. O Senac Rio, por exemplo, é considerado a maior bolsa de negócios de moda da América Latina, e São Paulo está no ranking das 10 principais cidades do mundo em relação à moda

 

Por aqui, as criações não param de surgir, sempre com muito estilo e aquela criatividade que só o brasileiro tem. Mas se as coleções surgem com força a cada estação, o que dizer do consumo? Bem, uma frase preconceituosa, citada por um agente ao jornal inglês Daily Mail chamou a atenção e gerou polêmica. Segundo ele, “os negros no Brasil são pobres e não consomem moda.” Uma frase infeliz e sem nenhum conhecimento, visto que nós negros somos um povo naturalmente cheio de estilo, que valorizamos ao máximo a beleza de nossa pele e cabelo. Temos estilo dos pés à cabeça e nos orgulhamos muito disso. Bem, deixando as opiniões de gringos sem informação de lado, RAÇA BRASIL quis saber como anda o mercado da moda para os novos estilistas negros. Quem são eles? Antenados com o mundo moderno, Hamilson, Jordana e Bruna são três bons exemplos de renovação nesse cenário. Eles vêm cheios de garra (e criatividade) para vencer no concorrido cenário fashion e, principalmente, fazer com que suas criações ganhem as ruas e a preferência de pessoas que fazem questão de estarem na moda sem perder a personalidade e as raízes culturais.




Formada em moda pela FMU, a paulista de 23 anos nasceu para inovar. Seu estilo pessoal causa reações interessantes por onde passa. Bruna começou como personal-style, depois começou a fazer uniformes para empresas, até lançar sua própria grife, em 2008, baseada em vestidos de alta-costura, figurinos para shows e eventos. Atualmente, a jovem cria e confecciona roupas para a cantora Negra Li, é estilista da marca Feira Preta, além de fazer uniformes modernos para grandes empresas


Bruna Battys, Hamilson Nascimento e Jordana Rosa, a nova geração de estilistas
Bruna Battys
Cristiane Oliveira veste saia longa jeans com estampa interna e blusa de paetê. Criação de Brunna Battys
INTERESSE POR MODA
Quando criança, brincava de desenhar e vender roupas. Com o tempo senti mais necessidade de entender sobre moda, quando eu ia para as festas, gostava de me vestir com peças e tecidos diferenciados. Pegava da minha mãe algumas roupas dos anos 80 e 90, criava algo em cima e todos perguntavam onde eu tinha comprado. Percebi que este era meu verdadeiro dom, o de criar!


INSPIRAÇÃO
Me inspirei nos meus pais, pois eles sempre se vestiram diferentes, são estilosos e antenados, e chamam a atenção por onde passam. Eu pensava: “Tenho que ser assim quando crescer.” E, por ser criada no meio musical, me inspiro bastante em ícones como Michael Jackson, Diana Ross, The Temptations e muitos outros da música negra.


DIFICULDADES PROFISSIONAIS
Graças a Deus, nunca tive dificuldade ao longo da minha carreira, apenas no decorrer dos meus estudos. Um professor da faculdade me subestimava muito, a ponto de me humilhar, não acreditar no meu potencial, de olhar o meu trabalho e falar que não tinha sido eu que fiz. Quando soube da minha intenção de abrir meu próprio negócio, aí que não me ajudava mesmo. Mas outros professores e amigos, que olhavam aquelas injustiças, me ajudaram muito. Fechei o curso com nota máxima.


REALITY SHOW DE MODA
É sensacional, uma forma de incentivar o estudante ou o leigo a conhecer melhor o que é trabalhar moda, criar, fazer modelagem, costurar, entender de arte, cultura, política e pesquisar muito o conceito de uma coleção. Hoje, através destes realitys, as pessoas podem entender e deixar de pensar que o curso de moda é futilidade. O que me entristece nestes programas é a falta de negros, quando tem, é apenas um.

PANORAMA DO MERCADO ATUAL
A moda vem crescendo gradativamente e as oportunidades de empregos na área estão melhorando para alguns grupos. Hoje existem pessoas que, mesmo sem formação, montam seu micro-negócio, sua confecção. Existem muitas grifes boas, criadas por negros talentosos espalhadas pelo Brasil, porém, nos eventos de moda ainda existe uma barreira para ser quebrada. São sempre as mesmas marcas e sem muita inovação. A nova geração não tem oportunidade, principalmente os estilistas negros. Se for com modelos negros, então! Quanto aos grandes desfiles, acredito que ainda há uma cópia dos desfiles de fora, portanto, temos que explorar mais o nosso país, a nossa beleza, a raiz, buscar mais identidade e personalidade em nossas criações, assim como Romero Britto faz em suas artes.


COTAS NAS PASSARELAS
Que esta lei possa conscientizar de uma vez essas pessoas, os criadores desses grandes eventos. O Brasil tem que entender que somos um país miscigenado, e não tem a divisão de só criar roupas para branco, para negro ou para japonês. As cotas têm uma grande importância para o fortalecimento de outras belezas, além da eurocêntrica, predominante nos desfiles. O mais importante é o fortalecimento da autoestima dos jovens negros que queiram trabalhar no mundo da moda.


O QUE PODE MELHORAR NO MERCADO DA MODA
Deveriam existir leis de incentivo à produção de moda para os jovens profissionais que queiram se destacar no mercado, cursos gratuitos para quem não tem condições de pagar uma faculdade e mais oportunidades de trabalho, além de eventos de moda em que todos possam entrar sem restrição. Quanto aos professores, uma maior atenção aos alunos de outras etnias, apresentando referências para fortalecer a ancestralidade e a personalidade de cada um em suas criações.


PRETENSÃO PARA O FUTURO
Fortalecimento e expansão da minha marca, a Bruna Battys Confecções, e a viabilização de projetos que possam apresentar novos talentos para o mercado da moda.




Barbara Faria veste tomara-que-caia balonê preto com laço, ancle boot dourado com estampa da coleção Magia Cigana. Inspirações de Hamilson Nascimento


                               Hamilson Silva

      INTERESSE POR MODA

Sempre me interessei por moda, mas resolvi adotar como profissão aos 11 anos. A princípio, queria apenas trabalhar com moda festa. Hoje em dia também, mas quero agora explorar outras áreas como consultoria, produção e design de acessórios.

INSPIRAÇÃO
No começo não me inspirava em ninguém. Embora minha mãe fosse costureira, eu não cresci com acesso nem contato com o mundo da moda, mas tinha fascinação pelos vestidos de noiva e vestidos de festas nas vitrines das lojas. Quando tive oportunidade de um contato maior, me apaixonei pelo trabalho da Vivienne Westwood. Aí, com o tempo, o leque de inspirações foi se abrindo.

DIFICULDADES PROFISSIONAIS
Com certeza! Dificuldade em administrar o tempo, e pessoas que não valorizam seu trabalho, nem acreditam no seu talento, tentando te levar pra baixo, além da pressão, nada muito diferente das outras profissões. Mas as dificuldades são algo que me motivam, me faz valorizar e me sentir valorizado com o trabalho final, tudo o que vem fácil perde a graça com a mesma facilidade. Sempre agradeço a Deus tanto as graças, quanto as dificuldades, porque eu não seria e nem teria as histórias que eu tenho pra contar sem elas.

REALITY SHOW DE MODA
Acredito que são úteis, pois mostram um outro lado, mesmo que ainda um pouco fantasioso, mas real da moda, o que acontece nos bastidores e todo o processo de construção, levando a moda para um público maior, que não nem acesso nenhum a ela.


PANORAMA DO MERCADO ATUAL
O mercado de moda vem crescendo bastante, criando uma identidade própria e se desligando cada vez mais da moda europeia. É claro que ainda falta muito para chegarmos ao estado de referência mundial, como Paris e Nova York, mas estamos no caminho. Em relação a oportunidades para negros, há menos chances, da mesma forma que em outras áreas. Um estilista negro gera espanto, sim, e é muito mais difícil para as pessoas aceitarem um estilo étnico que algum outro alternativo. Nós temos muita dificuldade também em apresentar conceitos. Os grandes desfiles vão mudar de acordo com a forma que a moda brasileira vai evoluindo.


COTAS NAS PASSARELAS
Gostaria muito que não houvesse, mas, infelizmente, se faz necessária até que o brasileiro aprenda a se desligar do modelo europeu e criar um modelo próprio. Não se pode encontrar a brasilidade no conceito e nas peças, se o padrão de beleza usado não é o brasileiro. O chato é que eu não vejo uma mudança rápida quanto a isso. É uma pena, porque atrasa toda a evolução da moda brasileira.


O QUE PODE MELHORAR NO MERCADO DA MODA
Acredito que pra melhorar ainda mais é preciso que o mercado se abra. A moda precisa incluir pessoas de classes mais baixas, com menos renda, para que esse público não apenas compre roupa, mas consuma mais moda, mais tendência. As lojas de departamento direcionadas à classe D têm grande papel nesse aspecto. Naturalmente, crescendo o nicho de mercado, as oportunidades aparecem.


PRETENSÃO PARA O FUTURO
Em curto prazo, adquirir um pouco mais de experiência para poder levar para frente o sonho de abrir uma marca minha. Quero me dedicar mais à criação e ao desenvolvimento de produtos, mas sem, de jeito nenhum, desistir da produção e stylist, que eu amo tanto fazer.


Natural de Mogi das Cruzes, em São Paulo, Hamilson, de 23 anos, desde cedo já se interessava por moda – talvez por influência da mãe costureira – e, quando passava pelas vitrines ficava fascinado pelos vestidos de noivas e de festas. Formado em Moda pela FMU (começou o curso na UNIP), após alguns estágios trabalhou como consultor e produção de moda com desenvolvimento e design de acessórios, época que desenvolveu uma leve paixão pelo segmento, mas com objetivos de ser estilista de vestuário. Entre produções e criações, produziu desfiles de moda para a coleção 2011 da grife Feira Preta e o concurso Top Models, da agência HDA.

Hamilson Nascimento e a modelo Barbara Faria. Na foto, ela veste tomara-que-caia branco, bota da coleção Magia Cigana, e jóias do acervo


                                         Jordana Rosa


Jordana Rosa e a nossa capa, a modelo Gabriela Gomes, que posa com vestido simples estampado que valoriza a silhueta da mulher sem marcá-la demais. As cores dão um toque especial na peça com um efeito aquarelado


Ela tem 20 anos mas trabalha como consultora de moda na cidade onde nasceu – Lorena, no interior de São Paulo –, desde os 15. Quando se mudou para a capital, seu primeiro trabalho foi para a grife Cresposim, no evento Fashion Black. Desde então, ela não parou mais, passando pela Casa dos Criadores, como estagiária, e pela São Paulo Fashion Week (SPFW). Jordana também esteve como assistente de modelista da marca Carlos Miele, em que desenvolveu bastante o seu potencial em modelagem. Atualmente, trabalha como designer para a marca JustKidding, e como consultora de moda no salão Rosas Shekinah, em parceria com a maquiadora Janayra Martins. Ela ainda encontra tempo para realizar produções de moda para books e ensaios fotográficos, enquanto cursa o último semestre em Design de Moda na Faculdade Anhembi Morumbi.



Aqui, o look é blusa e saia pretas. Em ambas as peças, a intenção de Jordana é valorizar a textura do tecido, trabalhada em experimentação de superfície têxtil. O conceito é a pluralidade
INTERESSE POR MODA
Comecei a me interessar por moda quando não achei um vestido de 15 anos para a minha festa e desenhei para a minha avó confeccionar. Desde então, me interessei em ler revistas e pesquisar na internet até fazer o meu primeiro curso na área de moda, quando estava no terceiro ano do ensino médio.

INSPIRAÇÃO
Minhas referências vão além da moda, vem de casa. Minha avó Abigail, costureira, é a maior delas. Minhas inspirações aparecem, principalmente, da música, do soul, do hip hop e do rock and roll. Não tenho inspiração específica da área de moda, geralmente os conceitos me movem e me levam a pesquisar e a estudar diversas áreas que possam servir de objeto para que eu possa desenvolver o meu trabalho.

DIFICULDADES PROFISSIONAIS
As dificuldades sempre existem, o mais difícil realmente é ter que ficar longe da minha família. Mas o importante é não desanimar e utilizar os obstáculos como apoio e oportunidade de crescimento próprio.

REALITY SHOW DE MODA
Acho que são excelentes quanto a visibilidade que é dada aos participantes, agora, vai muito de cada um mostrar o tipo de profissional que é o seu talento, e aproveitar tudo de maneira positiva.

PANORAMA DO MERCADO ATUAL
O mercado nacional é restrito, assim como todo o mercado de moda. É importante se relacionar bem com o pessoal da área, se destacar pelo seu talento e explorar todas as oportunidades. Quanto às oportunidades para os negros, tudo é uma questão de buscar uma boa formação e ser competente. O mercado é para todos, mas sem estudo não se chega a lugar algum.

COTAS NAS PASSARELAS
Não sou a favor das cotas nos desfiles. O conceito de criação de um estilista, assim como o casting escolhido, deve ser respeitado. Porém, aprendi que a moda é o reflexo da sociedade e os negros fazem parte do rosto do Brasil. Gosto de assistir um desfile e ver modelos negros e me identificar com as roupas, me sentir parte da obra do estilista. Isso é importante!

O QUE PODE MELHORAR NO MERCADO DA MODAO mercado da moda é bem concorrido. As oportunidades de estágio e primeiro emprego na área são sempre difíceis, como em qualquer outra. Mas elas sempre podem melhorar, né? Mas não é fácil conseguir um bom estágio na área

PRETENSÃO PARA O FUTURO
Crescer junto com a marca que estou trabalhando, a JustKiddig Wear, crescer como produtora de moda e consultora. Enfim, dominar as áreas nas quais eu descobri o meu amor pela moda e estar entre os profissionais tops do mercado.


http://racabrasil.uol.com.br/cultura-gente/161/artigo242606-1.asp


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